quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Mídia sufoca pluralidade e suprime pensamento crítico
Paradoxalmente, rádio e televisão podem oferecer-nos o mundo inteiro em um instante,
mas o fazem de tal maneira que o mundo real desaparece, restando apenas retalhos fragmentados
de uma realidade desprovida de raiz no espaço e no tempo.
Como, pela atopia (fora do lugar) das imagens, desconhecemos as determinações econômico-territoriais (geográficas, geopolíticas etc.) e como,
pela acronia (fora do tempo) das imagens, ignoramos os antecedentes temporais e
as conseqüências dos fatos noticiados, não podemos compreender seu verdadeiro significado.
Essa situação se agrava com a TV a cabo, com emissoras dedicadas exclusivamente a notícias, durante 24 horas, colocando em um mesmo espaço e em um mesmo tempo (ou seja, na tela)
informações de procedência, conteúdo e significado completamente diferentes,
mas que se tornam homogêneas pelo modo de sua transmissão.
O paradoxo está em que há uma verdadeira saturação de informação, mas,
ao fim, nada sabemos, depois de termos tido a ilusão de que fomos informados sobre tudo.
Se não dispomos de recursos que nos permitam avaliar a realidade e a veracidade das imagens transmitidas, somos persuadidos de que efetivamente vemos o mundo quando vemos a TV.
Entretanto, como o que vemos são as imagens escolhidas, selecionadas, editadas, comentadas e interpretadas pelo transmissor das notícias, então é preciso reconhecer que a TV é o mundo.
É este o significado profundo da atopia e da acronia, ou da ausência de referenciais concretos de lugar e tempo – ou seja, das condições materiais, econômicas,
sociais, políticas, históricas dos acontecimentos.
Em outras palavras, essa ausência não é uma falha ou um defeito dos noticiários e sim um procedimento deliberado de controle social, político e cultural.
(Marilena Chauí, Simulacro e poder – uma análise da mídia. 2006)
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